sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Quando não vi o Papai-Noel

Não lembro exatamente que idade eu tinha. Lembro que morávamos num apartamento em São Paulo e que era época de natal. Minha mãe havia montado a árvore ao pé da janela, pra facilitar pro bom-velhinho, escrevêramos as cartas pedindo sei lá que brinquedos e agora nos divertíamos ali, à mesa de jantar.
Aquele dia foi bastante alegre pra mim; e se eu não tivesse caído no sono teria visto o Papai-Noel saltar de minha janela.
Mas não foi por isso que não o vi; nem meu natal foi vazio de imaginação.
Eu ainda tinha sono quando minha mãe me acordou e aos meus irmãos dizendo que ouvira o Papai-Noel. Fizemos silêncio e ouvimos o som de suas botas pisando o chão da sala. Nítido. Inconfundível. Saltamos da cama. O apartamento estava escuro; só a luz do corredor e a árvore de natal iluminavam o recinto.
Quando chegamos lá, meu pai estava à janela, apontando para o céu, dizendo que o Papai-Noel acabara de entrar no trenó e sair voando na direção que seu dedo apontava. Lembro que fiquei com aquela sensação de angústia, de quem nadou e morreu na praia. Queria muito ver o velhinho. Mas meu pai nos colocou na janela, que talvez víssemos o trenó passar, distante, de volta pro Pólo Norte.
Não vimos. E eu relutava em sair da janela. Temia que na hora em que saísse ele, o Papai-Noel, passaria por ela e eu perderia a chance de vê-lo. Restavam, porém, os presentes; e estes, por fim, me convenceram.
Lembro ainda da sensação daquele dia, de como a pouca luz contribuiu para estimular minha imaginação e me fazer sentir a magia do momento; de como as ideias simples de meus pais construíram o chamado “espírito de natal”.
Hoje, que já não sinto mais o encanto dessa data, tenho tal lembrança bem guardada em mim.
Ela foi intensa, alicerçou meu espírito; e eu gozo em rememorá-la, como a um passado de mistérios que nunca deve ser esquecido.

domingo, 19 de dezembro de 2010

“Je touche!”

A expressão que dá título a esta crônica é, acredito, dum poema do poeta e esgrimista Cyrano de Bergerac. Digo acredito porque conheço-a apenas pelo filme de nome homônimo. Mas deve ser parte dum poema seu, sim.
Falando do filme, ele foi baseado na peça teatral de 1897 de Edmond Rostand, poeta e dramaturgo francês, e tem no papel do poeta-esgrimista ninguém mais ninguém menos que Gérard Depardieu, que chegou a ganhar o prêmio de melhor ator do Festival de Cannes. Esse filme, de 1990, indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro, conta a vida de Cyrano (de uma personalidade forte, sincera, arrojada e, o principal, de um nariz excessivamente enorme), de sua militância e poesia e de sua paixão platônica por sua prima. Um filme fantástico! Uma personagem maravilhosa.
Uma curiosidade. Três anos antes, Steve Martin estrelou num filme chamado “Roxanne”, no qual ele interpretava um cara durão, narigudo e que tinha uma paixão platônica por uma mulher (Roxanne). Semelhante, não? Por algum tempo, cri que este fosse uma paráfrase, por assim dizer, daquele. Mas.
A cena que mais gosto, que mais me marcou daquele filme foi a de quando Cyrano vai a um espetáculo teatral, se não me engano, interrompe-o bruscamente, impõe sua personalidade, por assim dizer, faz algumas piadas e é insultado por um homem que faz referência ao seu enorme nariz. Todos ali sabem que não se deve apontar, falar ou mencionar tal defeito (ou qualidade, para algumas). Sendo assim, Cyrano o desafia e eles vão duelar do lado de fora do teatro.
É claro que a massa ali presente vai assistir ao duelo, já sabendo, na verdade, o que ocorreria. Enquanto duelam, a pedido de um que se encontra ali, eu acho, Cyrano, em voz alta, vai compondo um poema; e toda vez que ele fica face a face com o adversário, ele dá uma narigada no nariz do outro e profere: “Je touche!”. É ótimo! Adorei o filme, como já disse. E um dia o terei na minha estante.
Por ora, contento-me com um outro que adquiri recentemente quando ia assistir a “Avatar” (que a propósito é um bom filme), intitulado “Camille Claudel”, tendo Gérard Depardieu no papel de Rodin.
O filme mostra a paixão de Camille pela arte e pelo famoso escultor, levando-a a loucura. O longa é ótimo. Depardieu está muito bem no filme e igualmente Isabelle Adjani. Vale a pena vê-lo.
Outro filme que gosto muito e possuo em minha coleção é “o Conde de Monte Cristo”, também estrelado por Gérard Depardieu. Gosto do cara. A história já começa com Edmond Dantes na prisão e vai mostrando o que acontecera a ele, diferente do filme mais recente, estrelado por Jim Caviezel e com participação do ótimo Richard Harris (ator irlandês que faz o papel do velho culto na prisão, tendo estrelado “Camelot”, na pele do Rei Arthur, e pouco antes de morrer interpretou Dumbledore em “Harry Potter e a Pedra Filosofal”), que começa como manda o livro de Dumas.
Há ainda outros filmes adaptados de livros que desejo ver e possuir, como “Os três mosqueteiros”, com Depardieu, e as séries “Napoleão” e “Os miseráveis”, que têm Malkovich no elenco.
É, parece que peguei para falar do narigudo francês hoje. Dos dois, aliás.