Talvez o leitor esteja cansado de me ouvir falar de livros. Mas peço a sua paciência. Este escritor está cansado de falar do Lula. E os livros têm sido (e são) uma de suas boas companhias.
Diferentemente de outras pessoas, não sou chegado a baladas, danceterias, bares noturnos que tocam pagode e coisas afins. Sou pacato, caseiro. Gosto de passar um fim-de-semana junto à família e aos amigos. Gosto da reunião.
Entretanto, há “baladas” que gosto, como por exemplo ir a uma livraria, mesmo que não vá comprar nada. Gosto de ver os livros, conhecer as novidades, as edições de obras antigas. Uma mais bela do que a outra. Como por exemplo a edição da Dom Quixote do famoso livro de Cervantes ilustrado pelo Dalí. Uma beleza!
Gosto de lê-los, se possível. Não os leio por inteiro, como se pode fazer nalgumas livrarias. Sentar-se numa poltrona e ler durante horas a fio. Beber café, comer pão-de-queijo... Dá uma sensação de liberdade, de que o mundo é um lugar tranquilo e gostoso de se viver. Mas os leio, os degusto como posso e como quero.
Em São Paulo há algumas livrarias que permitem leitura sem compra, por assim dizer. Conheço a Livraria Cultura e a Fnac, que possuem um acervo excelente além de tudo.
Porém, não entendo por que algumas livrarias não aceitam que seus clientes tomem dos livros e os leiam em seu interior. Acredito que seja por que dessa forma os clientes lerão o que desejarem sem precisar desembolsar um centavo e, assim, a lógica capitalista não se fará. É o mais óbvio e talvez único motivo.
Mas acho que elas se equivocam. Pois, para quem gosta de ler, possuir o livro é mais do que uma vontade: é uma necessidade, quase um vício, uma certeza de que o conhecimento e assim momentos de prazer e paz estarão sempre ao seu alcance.
Outro prazer que tenho, e acredito que qualquer fã de livros também o tenha, é folheá-los, senti-los em minha mão. Mas não sou tarado, fique tranquilo. E isso não só com as edições luxuosas, alvos da cobiça, mas, e principalmente, eu diria, com as edições velhas, antigas, desgastadas, carcomidas, até, pelo tempo. Gosto especialmente dessas, que só encontramos em sebos, claro.
Tenho um prazer imenso em folhear um livro antigo, de páginas de cortes irregulares, amareladas pelo pai de Zeus, cheirando a sarrafo, com ácaros e tudo. O problema é a minha rinite. Mas.
Aqui em casa tenho alguns exemplares assim.
Por exemplo, a primeira edição das “Obras completas” de Camões com prefácio e notas de Hernâni Cidade divididas em cinco volumes, editadas pela Livraria Sá da Costa Editora. No primeiro, encontram-se as redondilhas e os sonetos do poeta; no segundo, as odes, as elegias e outros gêneros líricos considerados maiores; no terceiro, os autos e as cartas; no quarto e no quinto, Os Lusíadas. Uma edição ótima, pois além de ser antiga (fico devendo a data da publicação, por não tê-la encontrado) mantém ainda, mesmo que parcamente, a grafia da época.
Outro exemplar antigo, amarelecido, consumido pelo tempo, é a quinta edição de “Rubáiyát”, de Omar Kháyyám, poeta, matemático e astrônomo persa, editada pela Livraria José Olympio Editora, datada de 1944. Além dessa, possuo a primeira edição do “Teatro de Gil Vicente”, uma antologia da Portugália Editora, datada de 1959 e apresentada por António José Saraiva. Nesta a grafia da época é ainda mais abundante. Para mim, um mar onde posso mergulhar de cabeça.
Tenho também a segunda edição de “Aparição”, de Vergílio Ferreira, também pela Portugália, datada de 1960. E de 1951, a primeira edição do Clube do Livro da “Vênus de Bronze” do Merimée. Ambas atacam minha rinite. Fazer o quê. E uma não tão acabada assim, apesar de ser a mais antiga, data de 1941, é a terceira edição de “Amadis de Gaula”, traduzida por Rodrigues Lapa e editada pela Lisboa.
Gosto dessas edições, muito embora nem sempre aprecie o conteúdo delas, que é o caso aqui do poeta persa.
Mas não importa, tenho um enorme prazer em folhear um livro antigo, senti-lo em minhas mãos (repito: não sou tarado) e lê-lo com o maior prazer do mundo.
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