sábado, 9 de outubro de 2010

Oi, pessoal. Voltei. Com a barriga cortada por uma cirurgia de emergência, mas ainda assim inteira. Bom, quase inteira, que 100% nunca fui. Já nasci trincada...*risos*. Agora, ao texto! Beijos e boa semana.

Declarações


É uma segunda-feira de um sol indecente. O Rio de Janeiro continua vasto demais, cheio de esquinas e subterfúgios. Ainda vou odiar essa cidade, escreva aí no teu diário das minhas invenções, escreva, anote.

Meu corpo silva a tua falta. A lâmina da saudade corta nacos da minha carne: minha boca, meu dorso, meus pés, meus seios. Meus eixos. O apartamento vazio faz brotar um dragão vermelho e cheiros de urros e labaredas que vão tomando conta do meu desespero e que se controla com doses vulgares do que fomos, do que estamos, do que não fazemos a menor idéia (e nunca sei se essa é a melhor parte ou se é o que me deságua). Ele me co-habita, o dragão, e assiste comigo os filmes que não vimos juntos e os livros que não compartilhamos. E se ajeita no sofá, me morde as têmporas e queima meu tempo. É um bom dragão e adormece enquanto eu conto a nossa história cristalina, límpida e de final infeliz. Mas ele não chora porque diz que as lágrimas secariam como cera e formariam um dossel encantado, e nenhum encantamento merece a aflição dos meus dias sem você.

Sou sempre viúva, visto negro. Mas não tenho medo algum da solidão, veja você que avanço. Converso com cada um dos homens que tive, com cada um dos que terei, e lamento com eles que teu nome esteja tatuado em mim de maneira tão devassa, impudica. Todo rastro é lastro quando teu nome é o meio e nenhuma dor jamais será tão digna dessa cor vermelha, vermelha escaldante. "Minhas páginas estão marcadas, dear, se você quiser será assim", eu direi, e um ou outro tresloucado vai aceitar essa troca pouco justa e vai ter meus afetos com uma profundidade que não. E ele vai acreditar, e vai se entregar, e vai assentir, e vai renegar, e vai retrair, vai se machucar, e vai indagar. E vai me odiar. E eu vou te amar ainda mais em cada possibilidade com outro som, outro gemido, outro toque, outro corpo. Você é eterno e eu que defino o tamanho da minha vastidão. Eu. Mais ninguém. E nisso, cherry, nem você apita.

Não, não, eu não serei uma daquelas pessoas que tomam café com creme sozinhas no cinema enquanto esperam a sessão. Tampouco serei uma moça de cabelos molhados que mais olha para o chão do que para os outros entre estantes de uma livraria. Também não vou ter ares de pequena loucura, olhos fundos deitados sobre um livro, uma folha branca sendo preenchida enquanto um copo é esvaziado em algum restaurante quase chique da zona sul (tão digno de mim que indigna de tudo!). E nem me imagine como uma distinta senhora de cabelos brancos e óculos de aros vermelhos a dourar a pílula da vida alheia - sublimando os desejos que nascerão entre as minhas vírgulas - quando chegar a tarde dos meus anos todos. Não tenho fôlego para viver assim, aos poucos, pela tangente, você sabe. Vou seguir o roteiro que eu tão bem tracei, vou vestir a personagem e seguir bailando: mãos na cintura, olhares lascivos, risadas largas e tiradas de humor dúbio. Eu, elas e eles, todos. Porque eu sou mesmo muito boa em fazer amor, amigos e macarrão instantâneos.

Um comentário:

  1. Ei amore, esqueceu de dizer que tambem 'e muito boa em escrever hist'orias para a gente viver de verdade. Coloca ai no seu caderninho!

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