domingo, 31 de outubro de 2010

Coisas bonitas


Minha avó me pediu que eu escrevesse sobre “coisas bonitas”, como “a Ana Maria Braga em seu programa”. (Espero que ela não esteja falando de quando esta se vestiu de Madonna). Ora, acaso não escrevo “coisas bonitas”?
Reli, então, minhas crônicas mais antigas e vi que, realmente, não falei das coisas bonitas: era só Lula, Sarney, o Jabba, o império todo. O George Lucas vai querer me cobrar direitos autorais... Pensei então em falar sobre mulheres, roubar uns versos do Vinícius, mas a Fabi, minha esposa, disse que plágio é crime... Então, não vi outra saída senão falar de poesia. A massa inculta que me aguente.
Yves Bonnefoy. Conheci-o por meio de Tolentino. Inicialmente em sua “Imitação...”. Depois, em suas entrevistas. Achei-o muito bom, de um verso intenso, forte; mais até do que o próprio Tolentino, por quem tenho profunda admiração. Mas isso não quer dizer que um seja melhor que o outro.
Bonnefoy nasceu na França em 1923, estudou matemática e filosofia. Leu Valéry, Rimbaud, Mallarmé, especialmente Baudelaire, sobre o qual fundamentou seu curso de mestrado. Conheceu o surrealismo na arte e na poesia, frequentando o grupo de Breton e fundando com alguns amigos a revista “La Révolucion La Nuit”. A partir daí, firmou sua originalidade poética, concedendo novos rumos à poesia francesa.
Sua poesia é marcada por uma busca incessante do “lugar verdadeiro” (e aqui podemos ver a influência que exerceu em Tolentino), do reencontro da unidade, não sem aceitar a limitação, a finitude e a morte como o barqueiro que conduz à simplicidade manifestada no ser. Enfim, um grande poeta.
Uns dos poemas seus, embora o conheça há pouco tempo, que mais gosto é o intitulado “A espuma, o arrecife”. E também “O poço”, “A neve”, que acho muito singela, e “A murta”, que transcrevo abaixo:

Por vezes te sabia a terra, eu bebia
Em teus lábios a angústia das nascentes
Quando brota das pedras quentes, e o verão
Dominava alto a pedra airosa e quem bebia.

Por vezes te dizia de murta e queimávamos
Árvore de teus gestos todos todo um dia.
Eram fogaréus breves de uma luz vestal.
Assim eu te inventava em teus cabelos claros.

Todo um nulo verão secara-nos os sonhos,
Tolhera a voz, inchara os corpos, quebrara os
                                [ferros.
Por vezes ia rodando o leito, barca livre
Que ganha lentamente o mais alto cio mar.

Mas o leitor aí do fundo não está muito contente com isto. Ouço-o balbuciar algo como Leminsky, Arnaldo, Russo, Cazuza, Caetano... É um senhor. Parece irritado. Dou de ombros. E penso que se ele não gosta de mim, sua filha deve gostar.
De qualquer modo, tomo lições com aqueles, pra mode ser mais isperto. E enquanto eles me transmitem sua experiença, à minha TV passa um documentário sobre a vida de Hitler.

3 comentários:

  1. Coisas bonitas, o que sao elas para nos..... Cada um com seu olhar e seu estilo. Essa e sua marca, que forma sua historia.... Obrigada pelas referencias e palavras! Beijos

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  2. Muito obrigado, Vanessa e Artebaiao! A literatura é coisa agradável de se ver, pois não?
    Grande abraço a ambos,

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