sexta-feira, 24 de dezembro de 2010
Quando não vi o Papai-Noel
domingo, 19 de dezembro de 2010
“Je touche!”
domingo, 31 de outubro de 2010
Coisas bonitas
[ferros.
quarta-feira, 27 de outubro de 2010
Do outro lado da língua
domingo, 24 de outubro de 2010
“Minha pátria é minha língua”
domingo, 17 de outubro de 2010
Um incentivo à vida
sábado, 16 de outubro de 2010
A delícia do desigual...
Já me disseram que isso é alguma tentativa de salvar a minha alma (também feia) ou resignar os meus complexos (também feios) de não ser exatamente bonita (mas nem feia!). Talvez. Não ter traços e formas perfeitas nunca me causou grande desconforto. Melhor: causou desconforto naquela época da adolescência em que a amiga loira é sempre a cortejada pelos fortões do fundo da sala. Passada a fase da castração do louvor próprio, nós, mulheres imperfeitas, descobrimos que um movimento com a mão, uma frase bem empregada, um olhar derretido, uma ou duas tiradas sacanas vencem qualquer atributo divino impregnado no DNA da tal amiga. No final das contas, entendemos que elas eram bem das chatinhas e eles, os garanhões, uns babacas de marca maior. Por isso, ou pela dialética do meu papo doce e pérfido, eu nunca estive sozinha.
Abusando da Martinidade (salve a Vila, salve ele, salve Martinho!), eu já tive homens de todas as cores, várias idades e muitos amores. E feios (se vc foi meu amor, entrou no blog e ficou ofendido, desculpe. Provavelmente não estou falando de vc). Os bonitos - e houve alguns lindos - não conseguiram me matar de paixão. Pelos perfeitos, de testa retinha, boca desenhada e corpos com divisões claras entre os músculos, não chorei uma semana. Pelos que não se enquadravam, os vesgos, caolhos, de andar cambaleante, óculos grossos e algum desaviso, eu quis morrer, cortar os pulsos.
Pode ser coincidência, claro que pode, mas acho mesmo que é uma opção do olhar. Meu desejo vem no frêmito da imperfeição. E só Deus (e os meus suores) sabem da malemolência das paixões de rodapé. O cantinho mais escuro - e onírico - do desajuste me interessa mais do que a mesa bem posta e a luz direta. A via de contramão é sempre (um) melhor caminho. E os homens que não sorriem com dentes perfeitos, aiai, mordem como ninguém.
* moço do meus encantos: vc é o único que conjuga a perfeição de um deus com a virulência do meu espanto em carne, osso e líquidos, viu? :-)
segunda-feira, 11 de outubro de 2010
“Impressoes do tempo que muda em segundos”
Em certo momento, encontrei-me adulta numa vida solitaria, vontades pareciam dificuldades para serem minha luta, sem interesse alheio. Pensei estar sozinha, mesmo entre amigos, no trabalho de realizar. As situacoes duras e frias me mostravam apenas uma escuridao para encontrar meu caminho.... pensei que os trabalhos em equipe fossem apenas brincadeiras de crianca de um passado ilusorio. Foi enquanto eu comecava uma jornada cega. Mesmo assim, continuei ate o fim ja sabendo que o prazer viria no primeiro sinal de vitoria...
A vitoria foi encontrar pessoas dispostas a estarem juntas, nao apenas para a realizacao de sonhos, mas para uma vida em conjunto, para dividir os ingredientes, o momento de cozinhar e o sabor da comida. Saudei quando descobri que o problema anterior era meu relogio interno que estava des-regulado numa cidade que nao via o tempo passar, e que eu havia me deixado levar pela ilusao da sensacao do tempo.
Aproveitando melhor a vida onde dizem que nao se leva nada embora, sobra tempo para viver pequenas companhias, como a cor do reflexo da rua, o som da agua do quintal, o canto de raros passarinhos ou o sabor delicioso daquilo que nao se gosta na hora da fome. Se parar o tempo, tudo parece melhor para saborear. Aqui morre um ponto de vista para dar lugar `a mais uma experiencia de vida.
Blog-se
Nao sei bem se ‘e efeito das cidades ou do tempo, mas alguns buscam a perfeicao do outro. Alguns acreditam que ‘e preciso criticar e falar sobre o que acontece no mundo (inclusive essa ‘e a minha profissao: o jornalismo). Comentar a transicao talvez seja a necessidade de documentar a evolucao e no futuro dizer que assim fomos n’os. Blogs estao ai para serem testados da melhor ou pior maneira e com certeza ‘e uma boa quando se encontra algo de qualidade, “ja valeu a pena passar por tantos ruins”. ‘E como acontece tambem com as situacoes da vida!
Acredito que fazer arte pacifica o homem, logo, imagino que o poder desabafar deixa o mundo mais informado e tambem mais tranquilo. A informacao dos blogs chegara ao cansaco.... como o dia do juizo final, os blogs ganharao uma definicao, um resultado e finalmente o porque de ser.
domingo, 10 de outubro de 2010
Livros, se lê-los por que não tê-los?
sábado, 9 de outubro de 2010
Declarações
É uma segunda-feira de um sol indecente. O Rio de Janeiro continua vasto demais, cheio de esquinas e subterfúgios. Ainda vou odiar essa cidade, escreva aí no teu diário das minhas invenções, escreva, anote.
Meu corpo silva a tua falta. A lâmina da saudade corta nacos da minha carne: minha boca, meu dorso, meus pés, meus seios. Meus eixos. O apartamento vazio faz brotar um dragão vermelho e cheiros de urros e labaredas que vão tomando conta do meu desespero e que se controla com doses vulgares do que fomos, do que estamos, do que não fazemos a menor idéia (e nunca sei se essa é a melhor parte ou se é o que me deságua). Ele me co-habita, o dragão, e assiste comigo os filmes que não vimos juntos e os livros que não compartilhamos. E se ajeita no sofá, me morde as têmporas e queima meu tempo. É um bom dragão e adormece enquanto eu conto a nossa história cristalina, límpida e de final infeliz. Mas ele não chora porque diz que as lágrimas secariam como cera e formariam um dossel encantado, e nenhum encantamento merece a aflição dos meus dias sem você.
Sou sempre viúva, visto negro. Mas não tenho medo algum da solidão, veja você que avanço. Converso com cada um dos homens que tive, com cada um dos que terei, e lamento com eles que teu nome esteja tatuado em mim de maneira tão devassa, impudica. Todo rastro é lastro quando teu nome é o meio e nenhuma dor jamais será tão digna dessa cor vermelha, vermelha escaldante. "Minhas páginas estão marcadas, dear, se você quiser será assim", eu direi, e um ou outro tresloucado vai aceitar essa troca pouco justa e vai ter meus afetos com uma profundidade que não. E ele vai acreditar, e vai se entregar, e vai assentir, e vai renegar, e vai retrair, vai se machucar, e vai indagar. E vai me odiar. E eu vou te amar ainda mais em cada possibilidade com outro som, outro gemido, outro toque, outro corpo. Você é eterno e eu que defino o tamanho da minha vastidão. Eu. Mais ninguém. E nisso, cherry, nem você apita.
Não, não, eu não serei uma daquelas pessoas que tomam café com creme sozinhas no cinema enquanto esperam a sessão. Tampouco serei uma moça de cabelos molhados que mais olha para o chão do que para os outros entre estantes de uma livraria. Também não vou ter ares de pequena loucura, olhos fundos deitados sobre um livro, uma folha branca sendo preenchida enquanto um copo é esvaziado em algum restaurante quase chique da zona sul (tão digno de mim que indigna de tudo!). E nem me imagine como uma distinta senhora de cabelos brancos e óculos de aros vermelhos a dourar a pílula da vida alheia - sublimando os desejos que nascerão entre as minhas vírgulas - quando chegar a tarde dos meus anos todos. Não tenho fôlego para viver assim, aos poucos, pela tangente, você sabe. Vou seguir o roteiro que eu tão bem tracei, vou vestir a personagem e seguir bailando: mãos na cintura, olhares lascivos, risadas largas e tiradas de humor dúbio. Eu, elas e eles, todos. Porque eu sou mesmo muito boa em fazer amor, amigos e macarrão instantâneos.
Meu corpo silva a tua falta. A lâmina da saudade corta nacos da minha carne: minha boca, meu dorso, meus pés, meus seios. Meus eixos. O apartamento vazio faz brotar um dragão vermelho e cheiros de urros e labaredas que vão tomando conta do meu desespero e que se controla com doses vulgares do que fomos, do que estamos, do que não fazemos a menor idéia (e nunca sei se essa é a melhor parte ou se é o que me deságua). Ele me co-habita, o dragão, e assiste comigo os filmes que não vimos juntos e os livros que não compartilhamos. E se ajeita no sofá, me morde as têmporas e queima meu tempo. É um bom dragão e adormece enquanto eu conto a nossa história cristalina, límpida e de final infeliz. Mas ele não chora porque diz que as lágrimas secariam como cera e formariam um dossel encantado, e nenhum encantamento merece a aflição dos meus dias sem você.
Sou sempre viúva, visto negro. Mas não tenho medo algum da solidão, veja você que avanço. Converso com cada um dos homens que tive, com cada um dos que terei, e lamento com eles que teu nome esteja tatuado em mim de maneira tão devassa, impudica. Todo rastro é lastro quando teu nome é o meio e nenhuma dor jamais será tão digna dessa cor vermelha, vermelha escaldante. "Minhas páginas estão marcadas, dear, se você quiser será assim", eu direi, e um ou outro tresloucado vai aceitar essa troca pouco justa e vai ter meus afetos com uma profundidade que não. E ele vai acreditar, e vai se entregar, e vai assentir, e vai renegar, e vai retrair, vai se machucar, e vai indagar. E vai me odiar. E eu vou te amar ainda mais em cada possibilidade com outro som, outro gemido, outro toque, outro corpo. Você é eterno e eu que defino o tamanho da minha vastidão. Eu. Mais ninguém. E nisso, cherry, nem você apita.
Não, não, eu não serei uma daquelas pessoas que tomam café com creme sozinhas no cinema enquanto esperam a sessão. Tampouco serei uma moça de cabelos molhados que mais olha para o chão do que para os outros entre estantes de uma livraria. Também não vou ter ares de pequena loucura, olhos fundos deitados sobre um livro, uma folha branca sendo preenchida enquanto um copo é esvaziado em algum restaurante quase chique da zona sul (tão digno de mim que indigna de tudo!). E nem me imagine como uma distinta senhora de cabelos brancos e óculos de aros vermelhos a dourar a pílula da vida alheia - sublimando os desejos que nascerão entre as minhas vírgulas - quando chegar a tarde dos meus anos todos. Não tenho fôlego para viver assim, aos poucos, pela tangente, você sabe. Vou seguir o roteiro que eu tão bem tracei, vou vestir a personagem e seguir bailando: mãos na cintura, olhares lascivos, risadas largas e tiradas de humor dúbio. Eu, elas e eles, todos. Porque eu sou mesmo muito boa em fazer amor, amigos e macarrão instantâneos.
quarta-feira, 6 de outubro de 2010
Viagem insólita
Blogs são divãs (o meu é d'Ivan, ok?) onde o analista não é um só, são muitos, alguns conhecidos, outros desconhecidos, alguns preparados para lidar com o exposto, outros não. É uma exposição buscada, sem dúvida, mas é preciso preparo para quem escreve e para quem lê. Não é tudo que nos agrada, mas também não é tudo o que escrevemos que agrada aos demais. Penso bastante nisto! De certa forma dou continuidade ao tema da minha outra postagem, onde falei da ida à livraria. Toda arte é via de mão dupla. Se não for, não é útil. E nem sempre é, ou nem sempre pra todo mundo. O que é bom ou ruim? Tenho meus conceitos e convicções e os sigo metodicamente, mas sem menosprezar (ou sem tentar menosprezar) os gostos duvidosos (às vezes muitíssimos duvidosos) dos "artistas"... Permitam-me as aspas, não consigo fugir da acidez da ironia.
Meio de semana, três canecas de chope alemão depois, algumas salsichas de vitela com ervas, coisa deliciosa. Arte da culinária, arte da degustação. Mas e pra quem não come carne ou não toma cerveja, haverá alguma "arte" nisto? Haverá algum prazer?
Prazeres ou a ausência deles são de foro íntimo. A busca por ele é constante e frenética. Porque um suposto deus nos teria criado com desejos se tivéssemos que refreá-los? Há uma grande contradição entre os pregadores religiosos (hipócritas?) e a real natureza humana. O prazer e o pecado são invenção de controle, úteis às igrejas, aos meios de comunicação e à conciliação de ambos. Pecado! O que seria isto? O peso de consciência de cada um tem sua medida. Livros sagrados, padres, pastores, rabinos, gurus tentam definir o que é certo e errado. Só consigo enxergar uma coisa plausível: onde termina meu limite e onde começa o do vizinho e o quanto posso ou não fazer uma intersecção com este limite. Há de haver concessão. Daí bom e ruim, bem e mal, virtude e pecado caem todos, conceitos fracos que são, pelo solo argiloso e ardiloso da teoria da relatividade.
E = m . c²
Sim, estou divagando e deixando fluir a livre associação tão cultuada na psicanálise. Nossa mente não nos leva de um lugar a outro por mero acaso. O acaso existe onde achamos haver destino e o destino inexiste (e é puro acaso) onde achamos haver determinismo. Este mundo é mesmo contraditório. Talvez esteja aí um pouco do seu tempero. Que seria de deus sem o demônio? De que nos teria que salvar? Não precisaríamos de um deus. A luz não faz sentido sem as trevas. O que haveria de a luz iluminar se não houvesse trevas? Maniqueísmos que predominam no inconsciente individual e/ou coletivo.
E meu blog, é bom ou ruim? Há todo um degradê. A questão, penso, pelo menos é o que penso neste momento... A questão está em saber em que região deste degradê, em que ponto entre os extremos maniqueístas está a fórmula mais adequada a cada tempo. O que foi bom antes pode já não ser mais. O que foi ruim antes agora pode ser "Cult". Mentes complicadas que mentem até para nós mesmos.
Esta postagem é apenas uma viagem, pegando carona na viagem postada pela Vanessa, sobre o que nos faz viajar e o que nos faz ver qualidades ou defeitos para nos fazer viajar, flutuar, criar, viver, ousar. Lanço interrogações e nem quero ousar respondê-las... Ficam aí a flutuar. É bom que venham respostas, tentativas de respostas, concordantes ou discordantes, e mais interrogações, até, pois é o que nos faz pensar, avançar, ser, viver até morrer. Morrer? Que é morrer? Fica para uma nova viagem em uma outra quarta feira. Enquanto isto, na medida do que der, vou lendo, vou escrevendo, vou ouvindo novas e velhas músicas, vou amando e odiando, vou tentando ser mais, ainda que às vezes sinta ser menos. Vou me permitindo ser coerência e contradição e tudo o que houver entre isto. Até outra quarta.
Pintura:
Jangada de Mèduse - Théodore Géricault
segunda-feira, 4 de outubro de 2010
O que te faz viajar?
Um dia, na plat'eia de um bal'e, a orquestra toca ao vivo. Nao 'e apenas a emocao, de arrepiar. 'E o prazer do pensamento que acorda como um formigueiro na mente, tendo visoes e querendo ser a arte no dia a dia. Dou conta da loucura que 'e a vida e das delicias que nos fazem represent'a-la, recri'a-la ou provoc'a-la. J'a passa do tempo de acordar e, caneta e papel sao os elos para inspiracoes. 'E como estar adormecido e acordar cedo, perceber que 'e possivel viver diferente. 'E pensar que aquela ideia 'e obvia e querer fazer parte daquela hist'oria. Ou ainda querer interagir com novas e proprias versoes.
Ao experimentar a arte, essa sensacao 'e extasiante, e eu jamais soube se este 'e o motivo de as pessoas estarem na sala do cinema ou do bal'e etc. Acredito que sim, pois 'e o motivo de eu voltar. Mas quando sou surpreendida e me pego viajando com algum artista, sinto a vida l'udica ao consumir boas producoes de livros, filmes, dancas e cancoes.
Deixo aqui a questao sobre o que te faz viajar!?
domingo, 3 de outubro de 2010
ATENÇÃO: Ler é prejudicial à saúde!
sábado, 18 de setembro de 2010
Amanhecia e era denso. No céu, apesar da fuligem da madrugada, os primeiros raios surgiam a fórceps pela largura das nuvens. A previsão não era de um dia bonito, nem de um dia feio. Mais um dia e só, como havia sido ontem e provavelmente depois e depois de amanhã. O importante era o minuto, ela sabia. Primeiro, o instante de constatar que o relógio tocava e ela ainda não tinha morrido, o que era um fardo cotidiano. Depois, vencer a água apitando no fogo, o café e o pão com manteiga, o ferro deixando vinco na roupa de trabalho, o pulso buscando a bolsa deixada no banco da cozinha. Então, os passos em direção ao ponto de ônibus, o bom-dia para o motorista, o barulho da catraca girando, a pressão do sangue sobre as pernas no trajeto, uma hora em pé, a comida do almoço, o trabalho na mesa, e assim, tic e tac, sucessivamente, até a redentora hora de dormir para quem sabe nunca mais.
Ela nem imaginava de onde vinha aquela ausência, uma lacuna que se abriu dentro do rasgo do peito quando era menina e nunca mais fechou, nem com as lágrimas de anos, nem com o avançar do tempo na maturidade. A dor resolveu viver ali, dormir ajeitada nos cachos do cabelo que lhe alcançavam as costas, bonita que era em seus trinta e poucos. Não se lembrava de ter sonhos e nem pesadelos, nunca tinha febre e nem saúde de ferro, não gostava de batom vermelho nem cor-de-rosa, não preferia a chuva ao sol (nem vice-e-versa). Viver era seguir em frente e repousar a respiração concentradamente no colo para, quem sabe assim, evitar que as bordas do buraco se expandissem para um não-ser maior.
Mas aquela manhã agitava-se diferente. Nada declarado pelo mundo em altos brados, mas a impressão que se insinua no modo como o vento toca o rosto na hora de abrir a porta da frente. Foi assim, quase com carinho, que a rajada da manhã interceptou o último bocejo quando ela destacava o pé para fora. Sem notar qualquer poesia, seguiu em frente. Na esquina, antes que pudesse adivinhar com qualquer dos cinco (sete, vinte) sentidos, uma figura destacou-se na rua. Era homem e usava chapéu, apesar da incongruência com os dias atuais. Olhos de castanho claro, duas avelãs, e boca vermelho-maçã. O rosto, marcado talvez pela varíola, tinha a aspereza da casca da goiaba e o cabelo, que escapava aqui e acolá na ladeira da cabeça, era mais amarelo do que um pedaço de pêssego tenro. O homem era todo feito de fruta.
O instante virou ventania, assoprou um turbilhão de reviravolta. A saia rodopiou num xote sobre a cintura, os pés bailaram como se fosse palco e um cheiro de jasmim atrevido empertigou-se nas narinas. Tudo pululava, tudo era pandemia. Ela não sabia se era o coração que retumbava no peito ou uma aurora bêbada que rachava a madrugada sonolenta sobre as pálpebras. Em solavancos, a alma aquecia e exigia, com esforço, cada teia da vida. Quando mais o homem se aproximava, já assim, poucos centímetros adiante, mais o ar faltava aos pulmões, mais os lábios separavam-se para dar espaço ao rugido mudo. Até o momento em que se cruzaram. Ela, tonteada pelo que não se explica, parou a meio palmo. Ele, um pouco a frente, virou-se e com um gesto gentil (tão gentil que quase obsceno), e lhe deu um...
- como vai?
Naquele instante, sem maiores explicações, o buraco fechou como se tivesse zíper. Ela lembrou do sonho da noite, algo com castelos. Sentiu a febre arder nas têmporas. Cismou que gostava da chuva. Quis um batom bem vermelho. Amou o dia. Já não importavam as sequências, os minutos. Mas quando deu por si, nada do homem, nada de cheiro, nada de sombra, nada de fruta. Desesperada, colou cambaleante ladeira abaixo. Onde estava? Quem era e por que era? Nada.
Ainda perguntou pela vizinhança, por acaso o pessoal da padaria tinha visto um homem alto e magro com chapéu? Não. No ponto de ônibus? Não. Aquela senhora na janela, teria visto? Não. O casal de enamorados na esquina? Não. A mãe que levava o rebento ao colégio? Também não. Ele foi. Ou não foi pra nunca mais.
E desde então foi a procura.
Sem buraco, só a dor.
Agora, a busca.
* Imagem: Madonna, de Eduard Munch
quinta-feira, 16 de setembro de 2010
Mais que Mil Palavras...
Só a alma sabe, só ela sente. Passeiem na imagem, viajem, sonhem e deixem a alma trazer o melhor de vocês à consciência.
Todos precisamos de poesia, e a Natureza sabe tão bem disso!
Grande beijo a todos.
sábado, 11 de setembro de 2010
Quem me ensinou a voar...
Eu não era uma menina de muitas palavras, mas brigava feito o demônio. Ele não era um menino de muitas ações, mas imaginava que era o diabo. Vivíamos na distância que impõe a pré-puberdade, a atração irrestrita do outro e a repulsa em acreditar na maturidade repentina do corpo (que vai tomando formas onde nem se imagina).
Tom (um nome pequeno e melancólico) era novo na vizinhança. Disso eu sabia e era só. A primeira vez que nos encontramos (numa tarde de sol teimoso, que nunca ia embora), ele me pediu para guardar um segredo. Baixou o corpo até o meu ouvido (eu nasci desprovida de altura, ele era imenso feito uma montanha, armadilhas da genética) e disse baixinho:
“eu sei voar”.
E eu ri, ri como se fosse inevitável desconfiar. Ri uma gargalhada tão alta que ele corou no meio da praça e, indignado, rodou sobre os pés e foi embora. Fiquei quinze dias sem pousar os olhos nele, mas esperei com pressa.
Depois, numa manhã um pouco azul, um pouco amarela, ele surgiu na ponta da rua. Andava tão desengonçado que parecia tropeçar no ar. Meu coração pulou. Ele foi chegando no meio da garotada, olhando em semi-círculos de timidez, e me chamou de lado.
“Acredita hoje?”, me perguntou.
“Só se você mostrar”, respondi, com medo de fazê-lo desaparecer mais uma vez.
“Então vem comigo”.
E eu fui.
Atrás da igreja da cidade, protegidos pela sombra de uma jabuticabeira, ele pegou na minha mão.
“Quer ver como se voa?”.
“Quero, mas duvido”.
“Fecha os olhos”.
“Se você me zoar eu te bato” (eu era mesmo danada de brava).
“Fecha os olhos”.
Eu obedeci e ganhei o meu primeiro beijo na boca. A impressão que eu tinha, naquele instante daquele dia longínquo naquele pequeno território da minha infância, é de que o mundo acabaria na nuvem que se formava sob meus pés. Tom sabia voar, e me ensinou.
Nunca mais nos beijamos, não assim, nem quando eu aprendi que meu ventre queimava, nem quando parti da cidade em busca do meu porto no Rio de Janeiro, nem nos meus fortuitos retornos à terra natal, mas trocamos segredos a vida inteira, as sensações, os espaços, os desavisos dos dias. Ele cresceu bonito, foi ganhar São Paulo, virou poeta. Hoje, casado e pai de uma garotinha ruiva, me liga toda semana para contar suas novas invenções. É meu melhor amigo, foi meu primeiro amor.
Depois de tantos homens, tantas histórias, tantos enredos, ainda acho que ninguém me contou tão bem uma façanha. E eu nunca mais voei tão bonito.
quinta-feira, 9 de setembro de 2010
TCHAU, TATÁ!
Ela chegou com pouco mais de dois meses, irressitível em seu casaco de manchas brancas e pretas, olhinhos castanhos, jeito sapeca e simplesmente, ficou. Não sei quem a deixou em nosso portão, mas sou muito agradecida a este desconhecido pelo presente que nos deu. Seu nome veio do desenho da Cinderela, pois assim como o ratinho Tatá, era gordinha, comilona e cheia de graça. Simpática, brincava com todo mundo e tinha um fraco pelo jardim, que até pouco antes de adoecer, cavava com vigor, até ficar com metade do corpo enfiado na terra escura. Avessa a banhos, fazia corpo duro cada vez que via sua colega entrar em um, sabendo que seria a próxima da fila.
Este anjo canino cresceu com meus filhos e ouviu deles segredos da infância e da adolescência, conheceu amigos, namorados, paqueras e ajudou a colar corações quebrados e desiludidos, sempre com carinho e benevolência. Nunca nos negou conforto, carinho ou companhia, assim como nunca negou ao carteiro, ao guarda-noturno e ao lixeiro veementes latidos de protesto.
Era uma amiga e se foi. E amigos, quando se vão, deixam espaços vazios que jamais podem ser ocupados por outros amigos; eles têm lugar cativo, espaço reservado, poltrona numerada.
Fiquei vários minutos acenando para o carro que veio buscá-la, parada em frente ao portão no dia cinza e gelado, pensando que a tristeza é sempre de quem fica e torcendo, de todo o coração, para que exista mesmo um céu dos cachorros, porque se ele for real, Tatá já havia garantido, em vida, um lindo jardim para esburacar, muitos carteiros para emplicar e uma pilha de ossos para roer.
RIP Tatá, a gente ama você!
*Sei que fugi do assunto do blog e espero que me perdoem por isso, porém entendo que escrever é apenas uma representação gráfica do sentir e que sem ele de nada vale qualquer texto...
quarta-feira, 8 de setembro de 2010
Na livraria...
Cresci em um ambiente totalmente propício para gostar de leitura, de música, de conversa. Minha casa sempre teve inúmeros livros dos mais diversos estilos, que demonstravam a busca de meus pais pela cultura, mas também pela compreensão do incompreensível. E antes que me perguntem, não, nunca encontraram a resposta. Nem tampouco eu. Mas encontrei e continuo encontrando muito prazer na leitura diversificada. Os pontos de interrogação, que povoam a vida e a existência, penso, são a própria existência. Também havia na minha casa muitos LPs daqueles bolachões antigos, vinis pesados. Muita música clássica, MPB e jazz. Na medida em que fui crescendo e adolescendo fui não só descobrindo do que gostava mais, aprimorando o gosto, como também descobrindo coisas novas. O rock chegou na pré-adolescência, mas considero que de forma muito seletiva. Na antiga casa dos meus avós maternos e de duas tias, havia também a presença de um piano e um violão. Os ambientes ajudam a nos formar.
O paralelo que faço entre a descrição inicial da livraria, um ou vários passeios à livraria, e a minha casa da infância, bem como a casa dos meus avós paternos, é pela semelhança na disponibilidade de acesso à leitura, à musica, à boa conversa, ao café, às pessoas com conteúdo. Minha casa de hoje continua repleta de livros, CDs, LPs, DVDs e até algumas fitas cassete remanescentes. Aos poucos vou as convertendo para CDs. É puro prazer e não há necessidade que seja algo mais, mesmo me considerando um "eclético seletivo".
Tornei-me Engenheiro Civil, mas já dei bons esbarrões em outras áreas, tendo, por simples gosto, estudado idiomas e, por dois anos, Psicanálise. Meus primeiros escritos são antigos, mas não sei precisar com exatidão. Tenho certeza de que na adolescência eu já tentava fazer letras de músicas, já que tinha minha banda, já tocava bateria e arranhava um pouco de violão. Hoje em dia me considero baterista amador, e continuo arranhando violão. Já me aventurei pelo piano, mas o máximo que faço é tirar melodias básicas, especialmente com a mão direita e em dó maior, na maior parte das vezes, o que simplifica o fato de não ter que utilizar as "temidas" teclas pretas dos bemóis e sustenidos. Instrumentos também são diversão para mim, brinquedos de hoje em dia.
De volta à livraria, entro com olhar atento. Logo de cara me deparo com lançamentos e já me atiro às prateleiras com um olhar curioso e crítico, tentando entender o que fez cada livro e cada autor chegar ali, em lugar tão privilegiado. Competência, sem dúvida, mas há a competência da escrita e a competência do marketing. Ótimo quando ambas se encontram, mas em muitos casos só vejo a competência do marketing aliado ao oportunismo do poder de fisgar leitores em busca da leitura fácil e superficial, de livros onde está escrito o que o lado frágil e desamparado das pessoas busca. Autoajuda e afins, oportunistas surfistinhas, aquelas e aqueles que usam túmulos como degraus e tantas outras coisas que, de alguma forma, "contaminam" aquele ambiente que eu gostaria que não fosse assim. Mas acaba tendo um lado interessante esta observação. Vejo pessoas ávidas a folhear de forma inquieta, amedrontada e esperançosa as mais "novas" criações no mundo da autoajuda. Quando olho as pessoas que têm em mãos estas obras, vejo a busca humana pelo preenchimento do desamparo natural humano, em busca da "salvação fácil", de "fórmulas milagrosas" dos "segredos" contidos. Em contraponto faço a observação dos outros leitores, aqueles que empunham com naturalidade e serenidade livros da boa literatura, como um bom Saramago, Pessoa, Chico Buarque, Machado de Assis, Florbela Espanca, Garcia Marquez e tantos outros. Estas pessoas olham para estes livros, que virão a ler ou já leram, como quem olha pra dentro de si, como quem olha com profundidade tanto o mundo quanto os seres humanos. São pensantes, de uma inquietude mais serena. A turma lá da autoajuda busca nos livros exatamente o oposto, o que vem de fora e vem "de graça". Livros de autoajuda, costumo ironizar, e concordo comigo totalmente, realmente são de autoajuda: ajudam a seus autores. Há melhor definição, então. Sim, são autoajuda e levam fortuna a muitos oportunistas. Dificilmente um bom escritor, de literatura de verdade, alcança a fortuna fácil (suja?) dos livros de autoajuda. Não posso me esquecer, também, dos oportunismos da literatura superficial dos novos vampiros, dos mágicos adolescentes, mas aí o objetivo é outro: entreter de forma mais superficial. Embora não admire muito, deixo as pedras para os livros de autoajuda. Sim, eu atiro pedras.
A Vanessa, esta "fugitiva temporária" que vai para a Irlanda e que me seduziu me trazendo até aqui, propôs a criação de um espaço onde discutíssemos e refletíssemos estes aspectos editoriais, dos porquês de uma literatura dar certo ou não. Alguma coisa ela já citou no artigo dela onde ela relatou alguns pensamentos meus sobre as impressões leigas do que faz de um livro atraente. Falei da capa, da qualidade do papel, da diagramação, das fontes, da contracapa, das orelhas e, claro, nada disso teria serventia sem um bom autor. Este é um "adorno" importante, pois acaba complementando a arte da escrita com a arte editorial. Um livro pode ser bom e bonito, e acho isto ótimo. Mas dificilmente um livro bonito e vazio irá me atrair. O conteúdo vem em primeiro lugar, mas valorizo, sim, a forma em que este conteúdo é veiculado. É arte, também; faz parte, também. Confesso que os chamados "livros de bolso" sempre me atraíram pouco. Entre comprar um Evangelho Segundo Jesus Cristo, do Saramago, em uma bela e cuidadosa encadernação ou em uma edição de bolso, confesso que a forma me cativa. Compro a boa e bela encadernação. Gosto do livro de papel, gosto de admirá-lo. Além disso, adoro sublinhar, anotar, refletir por escrito, também. Se o livro é materialmente mais bonito, acho que fica mais bonito refletir. (rs...) São impressões minhas, subjetivas, mas eu noto, ao observar as pessoas nos meus passeios às livrarias, que isto conta, sim. Conta nos livros, nos CDs, nos DVDs, nos LPs etc. Aliar a qualidade literária à qualidade editorial (e aqui me refiro à beleza plástica), são atrativos que tem um valor considerável, sendo a base verdadeira o conteúdo. Não falo de luxo, mas de bom gosto.
Pego os livros que quero namorar, me sento, peço um café, pego também alguns CDs e outros itens. Namoro calmamente, leio as contracapas e orelhas, folheio, aprecio as capas, vejo a biografia do autor, quando disponível, admiro o todo, leio trechos, penso muito e daí acabo por separar os "eleitos" do dia. Passo no caixa, pago e saio. Levo as aquisições na mão, em uma sacola (e agora tenho aderido às sacolas de pano, que são ótimas!). Como num ritual antigo, chego em casa, pego um por um, dato e escrevo meu nome, como quem marca um gado, e começo a leitura, via de regra, à noite.
Onde entra o Ivan que escreve? Bem, para mim uma coisa sempre puxou a outra. Ler me inspira a escrever e por consequência escrever me faz buscar mais conhecimento em boas leituras. Sou um "saramagomaníaco", órfão recente, mas ainda há tanto pra se ler, dele e de tantos outros autores. Me perco na imensidão do que tenho vontade de ler, mas me perco como quem se perde em Veneza, num delicioso labirinto belo e cheio de riquezas que me fazem olhar, no fundo, para mim mesmo. Escrever, para mim, é catarse, é imersão. Leitura também é, e é busca, mas busca madura, e não busca fácil. O assunto é inesgotável. Volto numa próxima quarta enquanto vou também lendo e comentando. Até lá devo ter lido algo mais, visto algo mais, comentado algo mais, me tornado algo mais. Até lá a Vanessa já estará nos lendo lá da Irlanda.
PS:
sábado, 4 de setembro de 2010
Sábado, quase madrugada. Como a desculpa mais gostosa para a minha consciência culpada, vou me lembrar que é nela, alta noite, que moram os amantes. Façamo-nos, pois, destes. O blog, ah, o blog, a alcova! (Tô perdoada? *risos)
Pois bem. Hoje eu estava lendo uma matéria sobre os textos colaborativos que estão surgindo graças ao ciberespaço (Jornal O Globo, Caderno Prosa & Verso, dia 04 de setembro), e me deu um nó na garganta.
Olha, eu sou bem da moderninha. Juro. Apesar de estar, no momento, monogâmica, não acredito que seja receita de felicidade para ninguém. Creio piamente que somos bissexuais, todos nós (que Freud esteja conosco - ele está no meio de nós!). Símbolos sagrados, para mim, são puras expressões culturais (e, como tais, merecem todo o meu respeito, mas não a minha devoção). No meu mundo, sexo é uma coisa, amor é outra, diferente e quase inalcançável. Drogas? Livres, por favor: "faça o que tu queres há de ser toda lei". Liberdade só tem um limite: o direito do outro de também ser livre, em cada possibilidade que a vida deu pra ele. Mas com meu texto? Ah, não! No meu texto não, violão!
Produção de literatura é íntimo demais, não dá para dividir. Ok, ok, vc pode produzir junto - as trocas de correspondências, por exemplo - mas vamos chamar isso de outra coisa. Aquilo que meu inconsciente projeta, que minha cabeça simboliza, que minha língua traduz, que meus dedos escrevem...ah, mano, aquilo é meu, só meu, egoistamente meu. Meu, meu, meu. Não venham esses tais dizer agora que isso tudo vai virar uma grande suruba das letras! Nãnãninãnão. Isso aqui é uma casa de família, oras pois. Humf.
...
Meu Deus! Virei uma reacionária!
...
:-/
Beijos e até sábado. Vou cortar a estrada para rever os meus na minha Sampa querida.
quinta-feira, 2 de setembro de 2010
Algumas Palavras sobre a Profissão...
Meu nome é Laura e eu sou a autora das quintas.
Por ser meu primeiro post, vou fazer uma apresentação curtinha para vocês conhecerem um pouco de mim: sou escritora, tenho 50 anos, 35 livros, 2 filhos, 2 gatos e duas cachorras vira-latas se recusam a concordar que já têm idade suficiente para parar de esburacar o jardim. Como a Dani, também "deseduquei" meus sobrinhos antes de ser mãe, e acabei usando um pouco desta experiência "deseducativa" para deseducar meus filhos..rs.
Moro em Santo André - SP há quase oito anos e antes disso morei em vários outros estados, mas Santo André foi uma opção de coração. Gosto demais daqui, gosto demais do bairro onde moro e da vida tranquila desta cidade.
Como não sabia direito sobre o que escrever, acabei escolhendo falar um pouco do que eu aprendi nestes anos de carreira. Sei que ninguém é modelo para ninguém, mas vale sempre repartir um pouco da experiência que acumulamos. Afinal, conhecimento que a gente não reparte é feito livro na estante: só serve para criar poeira e teia de aranhas.
Então, vamos lá.
Quando um amigo me pediu para bater um papo com a Vane sobre o mundo editorial, confesso que fiquei na dúvida sobre o que dizer. Por experiência própria, sei como um livro – principalmente o primeiro – é importante para o autor, quanto carinho e expectativa colocamos nele. A menos que a pessoa queira publicar pela vaidade de fazê-lo, um livro carrega muito de quem o escreveu, expressa partes de sua alma, de seus valores, de seu sentir. E como dizer a uma jovem poetisa, cujos olhos se enchem de estrelas ao fitar o mundo, que para concretizar seus sonhos, precisaria também concretizar seus passos?
Depois que respondi à Vanessa, fiquei com um peso no coração, imaginando que talvez tivesse sido concreta demais em minhas palavras, mas ela soube filtrar e entender o que eu quis lhe dizer. Foi desta conversa que nasceu o convite para um encontro e dele, a idéia deste blog.
Nestes anos na profissão de escritora aprendi muito sobre coisas que não estão escritas em lugar nenhum e ao contrário de um colega famoso, penso que algumas dicas são importantes para facilitar a caminhada.
E a primeira delas e a mais importante é: tire as estrelas dos olhos e coloque os pés no chão. Sonhe, mas não se iluda. Projete seu sucesso e seu crescimento, mas tenha em mente que não há saltos, há caminhos e que tudo é fruto de um trabalho bem feito, às vezes mais interno que externo. Errar faz parte do processo de acertar, então se algo não acontecer como você queria, aproveite a experiência e “toque em frente” como diz o pessoal.
Mais algumas coisas que vale a pena saber:
- Ninguém é um produto acabado e a escrita melhora com a prática, portanto escreva muito, leia muito, perceba muito.
- Ouça opiniões, mas coloque um filtro no ouvido para saber quando o que estão lhe dizendo é válido e merece atenção.
- Não veja seu livro como algo intocável, até porque ele não é. Editoras mexem nos textos, mudam títulos, mudam sequências. Faz parte do trabalho.
- Normalmente o escritor não tem visão comercial, não conhece dos truques editoriais e ignora processos de distribuição e venda de livros. Informe-se, isso é importante. Saiba como funciona o mercado editorial, leia sobre o assunto. Você nunca sabe quando, em uma entrevista, vão lhe perguntar sobre isso. E não é legal ficar com “cara de parede” diante do entrevistador..rs.
- Seu livro precisa vender e para vender tem que ter apelo. Para ter apelo, tem que haver publicidade e se você está começando, prepare-se para fazer isso você mesmo. Divulgue seu trabalho, bote “pilha” nas coisas! Não espere cair do céu, vá atrás. Utilize a internet para contatos, crie blogs, abra uma comunidade no orkut, coloque seu livro no Skoob, crie grupos, converse com as pessoas, crie parcerias, visite livrarias. Dedique-se de corpo e alma à sua profissão.
Lembre-se, estamos no Brasil, país cujo total da produção literária é menor que a produção literária de apenas UMA editora alemã. Para se firmar neste mercado, você tem que mostrar a que veio sem perder, obviamente, a naturalidade.
- Outra outra coisa fundamental, isso para quem tem livros em livrarias, é papear com os vendedores. No final das contas, são estas pessoas, mais do que quaisquer outras, que vendem seu livro. Fale com elas sempre que possível, explique sobre a história do livro, enfim, seja agradável e por favor, baixe a bola! Ninguém é obrigado a conhecer você ou a achá-lo um Einstein da literatura só porque publicou um livro! A maior queixa do pessoal das livrarias – de todas – é o ego dos escritores.
Não vou mentir e dizer que viver de literatura é “sopa” aqui no Brasil, mas é possível sim e depende muito do autor e do quanto ele está comprometido a pagar o preço desta viagem. E pagar o preço inclui ter que mexer no livro, entender que vai se tornar uma pessoa pública até certo ponto e que, portanto, precisa ter paciência e disponibilidade, ser simpático, atender aos leitores com carinho, não se deixar levar por elogios ou críticas, mas se manter fiel à inspiração.
E gente, o mais importante de tudo: vamos parar com essa coisa de que arte e dinheiro não combinam! No final do mês, todo mundo precisa pagar as contas, não é?
Concretude, lembram?
Beijos!
sábado, 28 de agosto de 2010
Hoje é sábado, não é? Bem, vá lá, não é muito sábado, já que faltam dez para amanhã, domingo, e o ontem, sexta, já passou faz tempo. Provavelmente, estou atrasada na minha primeira publicação porque, segundo consta, são meus os dedos que vão sobrevoar este blog no melhor dia da semana, este que já acaba. Sábado, o tal. :-)
Para um primeiro post, como para um primeiro papo, minha apresentação: meu nome é Giovana Oliveira (de mãe) Santos (de pai) Manfredi (de ex-marido) e, por convenção internacional, apenas Giovana Manfredi que, sei lá, traz alguma coisa de italiana pura a esta filha de Santo André, porto sem mar que me viu desamarrar o navio aos 23 anos. Vim para o Rio de Janeiro, a terra que vive sob o Cristo de braços abertos, o país da Guanabara, quando me casei, dez anos atrás. O casamento com o Lúcio findou-se (bonito, um amor que viveu tudo o que deveria), mas o Rio continua aqui, pulsando no meu cotidiano.
Por efeito do acaso, do qual nunca sei se desconfio ou me devoto, fui trabalhar na televisão. Não, não sou uma atriz linda e de dentes perfeitos. Sou pesquisadora-aprendiz de roteirista. Trabalho principalmente com a Gloria Perez, o que me faz pular o coração de amor e a alma de contentamento. Não há mestre melhor, acredite.
Por (de)formação, jornalista, mas poucas vezes as redações viram as minhas sardas. Sou uma rapariga da literatura, tenho um caso com a palavra, sou amante de frases, que me serpenteiam e se enroscam nas minhas pernas sem pudor e, por vezes, eu acho que essa minha relação vulgar com o mundo simbólico do escrito é o que há de deus em mim. Minhas reportagens são, portanto, olhares cheios de vírgulas sobre os acentos agudos de alguém. Não sei nada de imparcialidade. Jornalismo literário é a minha praia. E agora estudo cinema na Escola Darcy Ribeiro. Uma delícia.
Sou tia de quatro rebentos lindos, Luisa, Júlia, Isabela e Enzo. Não apredi a vontade de parir, mas exerço a deseducação dos meus sobrinhos com afinco. Sou casada com o moço mais bonito da espécie, mais inteligente do planeta, mais companheiro da galáxia e, te juro, não entendo bem o que ele está fazendo comigo, como é que ele lida com essas mudanças de temperatura dentro de mim, ora glacial, ora vulcânica. Jefferson. O nome dele. Jefferson. Um pouco anjo, acho. Meu menino.
Bom, sou eu. Quer dizer, parte de mim. Espero falar de tudo um pouco aqui, numa misturada boa em gênero e tamanho: literatura, cinema, relações de cultura e afeto. E também de culinária (esta parte é mentira). Fale também, mano, que aí...aí dá certo.
Beijo e até sábado.